segunda-feira, 27 de agosto de 2007















Inverno em Porto Alegre


Dos plátanos, as folhas

em profusão, caem dos galhos

inundando com sua cor amarelo-ouro

as toscas calçadas da 'Praça de Maio'



Na praça - que antes tinha outro nome

(oficialmente, 'Argentina')

ainda hoje se ouvem os ecos das manifestações

dos estudantes, dos populares,

em idos não mui distantes...



O vento frio agita o que resta

das copas das árvores centenárias

cravadas no coração desta cidade.



- Êta vento que sopra inclemente

castigando ainda mais o corpo franzino

desta gente

- 'hóspedes' permanentes dos viadutos...



Neste inverno

mais uma vez Porto Alegre apresenta-se gélida

(o Sul do país

está 'antártico'...)


Júlio Garcia - do livro 'Cara & Coragem - Poemas - 1995

Foto: Jean Scharlau - Porto Alegre/RS

quarta-feira, 22 de agosto de 2007














‘Recuerdos’ de um bom combate

Outro dia, ao postar o poema ‘Inverno em Porto Alegre’, veio-me a lembrança um episódio ocorrido ainda na época da nada saudosa ditadura militar.

Já faz um bom tempo, mas, como diria um amigo meu, ‘parece que foi ontem!’

O ano era 1980, se não estou enganado.

A Argentina vivia, assim como o Brasil, sob as botas implacáveis de uma ditadura militar.

O ditador de plantão era o general Videla, o ‘pantera cor-de-rosa’.

No Brasil, era o general Figueiredo (aquele que preferia sentir o 'cheiro de cavalo' ao invés do 'cheiro do povo').

A tortura, o seqüestro e o assassinato dos presos políticos corriam soltos nos dois países, mas com maior intensidade no país dos nossos ‘hermanos’.

Pois o Videla resolveu fazer uma visita ao seu ‘colega’ brasileiro. E resolveu dar uma ‘esticada’ até Porto Alegre, onde participaria de algumas ‘solenidades’...

Resolvemos então, em solidariedade ao povo argentino, organizar um protesto contra a presença do ditador no solo brasileiro.

O ato político começou por volta do meio-dia no pátio da Faculdade de Direito da UFRGS.

Começou com pouco mais de 50 pessoas, a absoluta maioria composta por estudantes de várias faculdades, a maioria da ‘federal’, membros de DCEs, mais alguns secundaristas e militantes de organizações de esquerda.

Decidimos, após alguns discursos inflamados contra a ditadura de ‘lá e cá’, iniciarmos mais uma passeata.

Começamos a ‘subir’ a Avenida João Pessoa: passo acelerado, palavras-de-ordem, megafones a mil; os estudantes que estavam na ‘fila’ do RU da UFRGS foram chamados a participarem; alguns populares incorporaram-se, a adesão foi aumentando...

Quando a passeata chegou à esquina com a André da Rocha já contava com mais de duzentas pessoas. Para nós, já era uma multidão (segundo os critérios ‘drumondianos’)!

Eu integrava o ‘serviço de ordem’ (segurança) da passeata. Fomos avisados que a tropa-de-choque da Brigada Militar deslocava-se pela Salgado Filho e vinha em nossa direção.

Paramos momentaneamente a passeata para organizar a resistência. A orientação era ‘não aceitar provocação’, mas também não recuar.

Gritamos os slogans de praxe: ‘soldado da brigada, também é explorado’, ‘o povo, unido, jamais será vencido’, ‘o povo, na rua, derruba a ditadura’ etc...

Mas não adiantou, o ‘pau comeu solto’, com muita violência; o número de brigadianos era desproporcional ao dos manifestantes.

Os estudantes começaram a debandar pela Rua André da Rocha, pela Salgado Filho, pela João Pessoa, descendo em direção ao campus central da UFRGS...

Então, um grupo de manifestantes, acuados, sem alternativas, adentrou o Restaurante Universitário (RU), quebrando os vidros do saguão com os próprios corpos, perseguidos pelos brigadianos que não cansavam de baixar o cacetete nas suas costas, cabeças, braços...

Por milagre, ninguém saiu seriamente ferido...

Então, baixada a poeira, decidimos ‘ocupar’ o RU até a saída do ditador Videla do Brasil. A seguir, o RU foi declarado ‘território livre’, símbolo da resistência contra as tiranias!

Organizou-se o comando da ocupação, a vigília, turnos, tarefas... Palavras-de-ordem foram escritas nas paredes, murais... Um palco foi montado. Músicos, atores, militantes revezavam-se ao microfone, todos denunciando as ditaduras latino-americanas e manifestando solidariedade ao ‘movimento’...

Lembro que o pessoal do ‘Oi Nóis Aqui Traveiz’ também esteve lá e representou em nosso palco improvisado...

No outro dia estava marcada a ‘reinauguração’ da Praça Argentina, onde o ditador Videla descerraria uma placa alusiva.

Pela manhã a cavalaria da BM, juntamente com o ‘choque’e seus ‘equipamentos’, cachorros etc., ‘ocuparam’ a praça.

Organizamos então uma nova manifestação na calçada do Centro de Engenharia da UFRGS (o CEUE), que ficava em frente à praça.

Após algumas horas, veio a informação que incendiou os ‘resistentes’: a ‘reinauguração’ da praça e a visita do ditador foram suspensas!

Comemoramos nossa vitória com mais um ato improvisado, ‘mudando’ então o nome da praça para ‘Praça das Madres de Mayo’, em homenagem às mães argentinas (ou ‘locas’, vide a foto acima) que, corajosamente, denunciavam o desaparecimento de seus filhos pela repressão, ajudando a tornar conhecidos mundialmente os hediondos crimes praticados pelos militares direitistas do país vizinho.

Ficamos dois dias e meio naquela luta.

Quando o ditador Videla saiu do Brasil, encerramos o ‘movimento’ da ocupação do RU - e mais um episódio na luta contra as ditaduras latino-americanas.

Esse combate nós havíamos vencido!

As ditaduras no Brasil e na Argentina durariam ainda mais alguns penosos anos, mas também acabariam derrotadas pela força organizada e resistente do povo. (Por Júlio Garcia -Porto Alegre - junho/2007)

sábado, 18 de agosto de 2007















Eu Canto


Eu canto

com profundo prazer, com emoção

o povo que optou por ser livre

e que por isso sangrou.


Os heróis e os anônimos.


A América Latina

(vulcão em atividade permanente).

O fogo descendo pelas encostas das neves andinas,

Eternas, desafiadoras, majestosa...

E madrastas.


Guevara eternizando seu exemplo

nos vales e montanhas bolivianas.

Eu canto o feito épico

de Lamarca lutando contra a fome

e as injustiças no Vale da Ribeira.


As crianças da Nicarágua

entoando suas canções sandinistas

(que falam em um porvir

com rios de leite e mel).


Eu canto a epopéia vivenciada

pelos povos, todos, de nosso imenso

e explorado continente

(do Altiplano, das savanas, dos pampas sem fronteiras,

da Amazônia infinita, das selvas colombianas...).


Eu canto

os camponeses, os índios

despojados de suas terras.

Os combatentes mortos no Peru

nas selvas do Araguaia

nas ruas de Santiago...


Toda a resistência conhecida

(ou anônima)

que houve, ou que haverá (?!) em nossa

Pátria Grande

Eu canto.


A coragem da mulher salvadorenha,

chilena, brasileira, uruguaya...

A saga das loucas

da Plaza de mayo.

De todas as esposas/mães/irmãs/amigas

de todas as fortes, calejadas, saudosas, resistentes

companheiras dos desaparecidos latino-americanos...


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -


Por todo o sangue derramado

pelos povos.

Por tudo isso dito, e pelo que ficou

Ainda guardado, esperando o seu momento,

E c o a n d o :

Eu canto!



Júlio Garcia



*Este poema recebeu a ‘Menção Honrosa’ no

XXI Concurso Literário Felippe D’Oliveira

Santa Maria – RS - 1997

Brasil/Bolívia




Respeitar a soberania e saber negociar

A decisão do governo boliviano de nacionalizar as reservas de petróleo e gás do país foi reconhecida - corretamente - pelo governo brasileiro como um legítimo 'ato inerente à sua soberania'. O presidente Evo Morales (e aqui não vamos discutir a oportunidade - ou não - de sua decisão; se o momento mais adequado seria esse - ou não; se deveria ter sido mais 'flexível' (?!) - ou não - nas conversações, nos prazos etc.) não está sendo mais do que coerente com o compromisso que assumiu durante sua campanha eleitoral. Evo não está traindo seu discurso, nem se propondo a enganar ninguém. E tem o apoio da absoluta maioria do seu povo, explorado e oprimido a mais de quinhentos anos pelos conquistadores imperialistas de ontem e de hoje. Agora, o novo governo boliviano acha que chegou a hora de dar um 'basta' à exploração do seu povo. Quem pode condenar essa decisão, soberanamente tomada pelos legítimos representantes dos índios, dos camponeses e dos trabalhadores da Bolívia, a não ser aqueles que querem eternizar a exploração dos povos latinoamericanos?

O presidente boliviano também já reiterou que não haverá suspensão do fornecimento do gás natural para o Brasil. A Petrobrás - que certamente poderá perder 'alguns anéis', não perderá 'os dedos': com serenidade, informou que tem todas as condições de garantir que o fornecimento continuará normal. Então, o que há de mais? O caminho que temos pela frente é - e não poderia ser outro! - o da diplomacia , o da negociação!

Diferentemente do que queriam os meios de comunicação dominados pelo capital (nacional e internacional) e a oposição raivosa, o governo Lula não entrou na cantilena hipócrita e alarmista dos que querem satanizar o presidente Evo Morales, aliás, como já tentaram fazer primeiramente com o próprio Lula e, após, com o presidente Hugo Chaves, da Venezuela. "O governo brasileiro agirá com firmeza e tranquilidade em todos os foros, no sentido de preservar os interesses da Petrobras e levará adiante as negociações necessárias para garantir o relacionamento equilibrado e mutuamente proveitoso para os países", diz a nota do Planalto.

Não era outra a postura que esperávamos do nosso governo. Aliás, um dos pontos fortes do governo brasileiro tem sido a política internacional implementada pelo Itamaraty. E o papel de agente do imperialismo não combinaria jamais com o que os povos latinoamericanos esperam do governo Lula.

Júlio Garcia - Poa - 03/05/2006

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Identificação

O Poeta não pode apenas
cantar a primavera
quando o inverno social
castiga seu povo

***

Não tenho, pois, as
pretenções acadêmicas
artificiais
com seu lirismo de salão e seus manuais
bolorentos,
bem comportados
que somente privilegiam
o ego(ista).

Minha poesia será feita
com os pés no chão,
identificada com 'o homem',
com 'a terra',
com o social(ista).

Quem sabe não serei apenas
o poeta dos maltratados
dos indigentes
dos exilados
sociais...

O 'ecológico poeta'
dos córregos
e dos rios
assassinados
das matas
destruídas
pelo 'progresso'
reacionário.

- o poeta da fome
- o poeta solidário
- o poeta do sonho
e da liberdade.

O Poeta não pode apenas
cantar a primavera.

Júlio Garcia, 1994

domingo, 12 de agosto de 2007

















Santiago



Não preciso esforço

para cantar Santiago

- dos poetas

- dos trovadores

- do Boqueirão.



Santiago dos paralelepípidos

tão regulares

das ruas largas

das calçadas falhas

da falta de praças...



Santiago

das crianças pedintes

dos latifúndios

dos sem-terras aceitos

a contragosto!



Santiago dos contrastes:

Dos 'amigos de Beethoven'

das 'forças vivas'

dos enjeitados sociais

dos trogloditas rurais

e urbanos!

Da 'ação da cidadania'

do solidarismo!



Santiago dos confrontos

do passado

& do presente

das revoluções

da nostalgia

da igreja histórica

assassinada

das carreiradas

das carreteadas

(ainda vivas na memória do povo)



Santiago das serenatas

das festas

do Caleche

do Porto e do W

do Mais qui Bar

do Vista Alegre...

Dos cines Neno e Imperial

(onde as fantasias e as paixões

corriam desenfreadas)



Santiago verdejante

pródiga de natureza

- das paisagens do Pilão D'água

- da Serra do Iguariaçá

e da Lagoa do Junco

(onde a Natureza, ainda!, é preservada)

...



Santiago da esperança

fraterna

despreconceituosa

das crianças bem nutridas

sem exclusões - e sem males!

Santiago do porvir!


Júlio Garcia


* Do livro 'Cara & Coragem' - Poemas - Ed. Alcance/Poa - 1995)

sábado, 11 de agosto de 2007

Resenha

'Germinal'

"Na estrada de terra que liga a pequena cidade de Marchiennes à de Montsou, no Norte da França, um homem caminha, só, durante a noite sem estrelas”.

O homem tinha saído às duas horas de Marchiennes e caminhava com passos largos, tremendo sob o vento glacial. Uma única idéia ocupava o pensamento desse operário desempregado: a esperança de que o frio diminuísse com o raiar do dia”.

Assim inicia ‘Germinal’, magistral obra do escritor francês Émile Zola, sem dúvida um dos grandes romances do século XIX, expoente maior da escola que ficou conhecida como ‘naturalismo literário’.

Émile Zola baseou-se para escrevê-la em acontecimentos verídicos ocorridos nas minas de carvão do Norte da França, em 1867, período da Revolução Industrial. Trabalhou como mineiro e como repórter, vivenciando e testemunhando a duríssima realidade social e a brutalidade do cotidiano nas minas, onde a insegurança, as péssimas condições de vida e de trabalho, aliadas a salários escorchantes, a exploração desumana de uma carga horária de até 16 horas diárias que não poupava sequer velhos, mulheres e crianças, somadas à fome, miséria e promiscuidade eram a tônica.

Segundo explica Silvana Salerno, tradutora da obra editada pela Cia Das Letras/2000 e também responsável pela sua adaptação “Germinal é o nome do primeiro mês da primavera no calendário da Revolução Francesa. Ao usar essa palavra como título de seu livro, Zola associa as sementes das novas plantas à possibilidade de transformação social: por mais que se arranquem os brotos das mudanças, eles sempre voltarão a germinar”. Informa ainda que “Germinal é o primeiro romance a enfocar a luta de classes no momento de sua eclosão. A história se passa na segunda metade do século XIX, mas os sofrimentos que Zola descreve continuam presentes em nosso tempo. É uma obra em tons escuros. Termina ensolarada, com a esperança de uma nova ordem social para o mundo”.

Silvana Salerno está coberta de razão. A leitura de Germinal é, sem nenhum exagero - e por todas as razões já elencadas - imprescindível. Está também disponível em vídeo, através de uma produção francesa de 1993, muito bem dirigida por Claude Berri, trazendo no elenco nada mais nada menos do que Gerárd Depárdieu, Miou-Miou, Jean Carmet e Jean-Roger Milo, dentre outros excelentes atores.

Para concluir, vejam só a profunda esperança no porvir, a certeza da vitória final dos trabalhadores, recheada da mais pura poesia, inseridas nesse fecho extraordinário que Émile Zola dá para sua obra magistral, agora buscando a tradução de Francisco Bittencour (Abril Cultural, SP - 1981):

“Agora, em pleno céu, o sol de abril brilhava em toda sua glória, aquecendo a terra que germinava. Do flanco nutriz brotava a vida, os rebentos desabrochavam em folhas verdes, os campos estremeciam com o brotar da relva. Por todos os lados as sementes cresciam, alongavam-se, furavam a planície, em seu caminho para o calor e a luz. Um transbordamento de seiva escorria sussurrante, o ruído dos germes expandia-se num grande beijo. E ainda, cada vez mais distintamente, como se estivessem mais próximos da superfície, os companheiros cavavam. Aos raios chamejantes do astro rei, naquela manhã de juventude, era daquele rumor que o campo estava cheio. Homens brotavam, um exército negro, vingador, que germinava lentamente nos sulcos da terra, crescendo para as colheitas do século futuro, cuja germinação não tardaria em fazer rebentar a terra”. (Por Júlio Garcia - Porto Alegre - maio/2007).


Navalha na hipocrisia



Os nossos aproximadamente vinte leitores assíduos - números otimistas! - sabem que este blog (que esta semana superou a marca dos doze mil acessos, para nossa surpresa... e satisfação!), em que pese reconhecer e apoiar muitas das ações positivas do governo Lula (e criticar construtivamente várias outras, sempre que julga necessário!) - justamente por isso ... não pode ser considerado mais um blog ‘chapa branca’. Estamos, portanto, muito a vontade para discorrermos sobre – e principalmente – os últimos acontecimentos verificados por ocasião da chamada ‘Operação Navalha’, que está cortando muito profundamente a carne de corruptos e corruptores que grassavam, até então, com a impunidade total e absoluta, pelo menos nos últimos quarenta anos (ou mais!) em terras brasilis (a propósito, leia a postagem abaixo, do Luiz Carlos Azenha).

No momento em que a lâmina corretamente manejada pela Polícia Federal, sob a hábil e determinada batuta do Ministério da Justiça, penetra cada vez mais fundo no tecido putrefato da corrupção, ouvem-se reações as mais variadas dos setores que já foram atingidos - ou que o serão num futuro próximo (esperamos!) pela enérgica mas necessária ação da PF.

É claro que eventuais excessos (se ocorreram) nesta operação, assim como em todas as demais, devem ser investigados, os responsáveis punidos, o direito – sempre – preservado. Aliás, essa é uma determinação do presidente Lula e do Ministro Tarso Genro.

Mas o que vimos hoje nas declarações contundentes de certos juizes, desembargadores, jornalistas, advogados e políticos é um misto de desespero e de hipocrisia que tem por objetivo desviar o foco das atenções, na tentativa de salvarem seus pescoços, ameaçados que estão pela 'guilhotina' ... da justiça. Vozes togadas, diplomadas, colarinhos brancos, convivas eternos e impunes dos banquetes do poder, bolsos forrados às custas da miséria e da desgraça de muitos, alardeiam agora o perigo a que está submetido o ‘Estado Democrático de Direito’. As mesmas vozes que nunca se manifestam quando a ilegalidade contumaz de nossas polícias recai sobre os despossuídos, os desempregados, os sem-tetos, os desesperados, os sem-terras, os sem futuro, os moradores das favelas, dos guetos, das periferias que têm cotidianamente suas famílias desrespeitadas, agredidas, seus filhos mortos, torturados, suas casas invadidas, ‘pedaladas’ sem ordem judicial, vítimas constantes da prepotência, dos desmandos, das injustiças, das ‘balas perdidas’...

Mas hoje, no fundo, sem tergiversações, indo no cerne do problema, 'direto ao assunto': o que mais importa é que governo federal - para os céticos, reacionários e derrotistas, o 'Governo Lula' - está determinado a dar um basta à roubalheira e à impunidade.

É disso do que se trata. O resto é dissimulação, hipocrisia, cortina de fumaça. (Por Júlio Garcia – maio/2007)

Resenha


'Cabeça de Porco'

“Cabeça de Porco tem uma dupla origem; é uma espécie de estuário de duas fontes: uma longa pesquisa realizada em diversos estados brasileiros por Celso Athayde e MV Bill, sobre os jovens na vida do crime e suas razões, sobre a dimensão humana destes jovens; e um conjunto de pesquisas e registros etnográficos conduzidos por Luiz Eduardo Soares, nos últimos sete anos, sobre juventude, violência e polícia”. Essa é a nota de abertura de ‘Cabeça de Porco’ – Editora Objetiva Ltda, RJ/2005 (uma das obras indicadas para os alunos do 7º Eixo da Faculdade de Direito/Uniritter), livro escrito a ‘seis mãos’ pelos autores acima citados.

Na linguagem praticada pelos jovens das favelas cariocas ‘cabeça de porco’ significa beco sem saída, confusão. Pois a intenção do livro, conforme informam seus autores, não é apenas denunciar, mas “apontar saídas”, mostrando a realidade nua e crua das crianças, adolescentes e jovens que estão hoje, de maneira cada vez mais crescente, envolvidos no chamado ‘mundo do crime’ – não só nos morros do Rio de Janeiro, mas em praticamente todos os estados brasileiros.

O trabalho produzido pr MV Bill (um dos mais famosos rappers do país, com intensa participação no movimento hip-hop, detentor de prêmios internacionais pela qualidade e politização de seu trabalho); por Celso Athayde (um dos fundadores da Central Única das Favelas e conceituado empresário de rap e hip-hop) e Luiz Eduardo Soares (mestre em Antropologia, com pós-doutorado em Filosofia Política, ex-Secretário de Segurança do RJ), na avaliação de Gildo Marcas Brandão, professor do Departamento de Ciência Política da USP “revela raro talento de ligar o particular ao geral, sem dissolver a dor do primeiro na frieza analítica do segundo. O livro combina, como poucos, reflexão, sensibilidade e solidariedade humana”. Na mesma linha, segue o comentário do dramaturgo Domingos de Oliveira: “Este livro lança luz inédita sobre a gravíssima questão da segurança. Indicando soluções surpreendentes e críveis, o livro une delicadeza e coragem, ira e lucidez, potência e impotência. Fazendo-nos assim crer na possibilidade do impossível. Ninguém foi tão longe no assunto”.

Ao final da ‘apresentação’ do livro, um alerta é lançado pelos autores: “Tudo o que está aqui (no livro) aconteceu mesmo. Acontece toda hora, e não apenas nas capitais mais ferozes. (...) Já não é absurdo supor, no Brasil, a configuração de uma subcultura, de dimensões nacionais, especificadamente ligadas ao mundo da violência, com valores, rotinas, linguagens e símbolos próprios”. (...) “O inferno está perto de nós, é verdade. Mas há saída, sim. Basta olhar de perto e sentir o sopro de humanidade que vibra sob a máscara dos monstros. Nós não gostaríamos que este fosse considerado um livro sobre o crime e a violência, melancólico e bonito como flores na sepultura. Desejamos que ele seja lido e usado como uma ferramenta cheia de vida a serviço da construção das saídas”. Fica aqui a indicação. (Por Júlio Garcia, Poa/2007)

18/03/2007
Um ano depois (sobre o aniversário do 'Blog do Júlio Garcia')...


'Por que este Blog?'

Há exatamente um ano, inaugurávamos este blog com a postagem do indignado, lúcido e corajoso artigo do companheiro Emir Sader, cujo título era 'O ódio de classe da burguesia brasileira', petardo deflagrado respondendo a declarações de Jorge Bornhausen, senador racista e banqueiro do PFL, como muito bem o professor Emir o definiu no citado artigo - que acabou causando-lhe uma absurda e injusta condenação. O 'cartão de apresentação' do blog era - e continua sendo - este, que reproduzimos abaixo:

"Neste Blog você encontrará notícias, informações, comentários, artigos, poemas, críticas, links favoritos etc. sobre - principalmente - política, economia, arte e cultura em geral. O objetivo é proporcionar alternativas para quem busca interagir sobre esses temas ou mesmo informações que fujam ao 'lugar comum' da chamada 'grande mídia', com suas contumazes distorções, hipocrisias, limitações e parcialidades.

Um espaço alternativo, libertário, propositivo e de esquerda, aberto à todos os que tiverem interesse dele participar."


ET.: Da amiga e companheira Regina Ramão (do excelente 'Brisa do Sul') recebemos votos de congratulações, além da gratificante - mas nem tão merecida! - postagem registrada no seu blog, abaixo reproduzida:


'Aniversariante:

O Blog do Júlio Garcia completou no domingo, 18/03, um ano de existência e glória. O Júlio é um grande lutador da, como diz o Olívio Dutra, "boa luta". Parabéns ao Júlio, pelo trabalho, zelo, perseverança e talento!'

Derrota de Yeda

Pacote de Yeda derrubado por nocaute!

Por um placar de 28 votos a 24, o 'tarifaço turbinado' (como muito bem definiu o deputado Flávio Koutzii, líder da bancada do PT) da futura governadora Yeda Crusius, do PSDB, foi derrotado na sessão extraordinária realizada na Assembléia Legislativa gaúcha, no dia de hoje.

A derrota certamente adquire aspectos de tragédia para o futuro governo neoliberal, uma vez que Yeda contava, em sua 'base de apoio' (se é que, a partir de hoje, assim se pode chamá-la) com a maioria absoluta dos partidos e das cadeiras na Assembléia Legislativa, sendo que, por arrogância, incompetência e/ou inabilidade política, não soube coesioná-los, mesmo detendo um sem número de cargos de 1º, 2º e 3º escalões na montagem de seu governo, utilizados como 'moedas de troca' para tentar passar suas propostas de arrocho salarial e de aumento de impostos.

Mas não adiantou. A derrota foi acachapante. A crise de seu governo, que ainda nem começou, adquiriu contornos abissais. De cara, já perdeu pelo menos três de seus (quase) secretários, que renunciaram sem ao menos assumirem. E o líder de seu partido na AL renunciou na véspera da votação do 'pacote', mostrando descontentamento com 'forma e com o conteúdo' do pacotaço natimorto.

O ano, assim, não termina tão mal como estava sendo anunciado. Podia ter sido bem pior...

Melhor para os trabalhadores, para os pequenos e médios empresários e agricultores. Melhor para o Rio Grande do Sul. (Poa, 2006)

Eleições 2006

RS na Contramão

Pois é, não deu. Faltou pouco para concretizarmos a 'virada' - que até as 17 h do dia 29 nos parecia tão próxima, tão possível. Mas Olívio Dutra, o PT e o PC do B, a aguerrida militância da Frente Popular estão de parabéns. Chegamos 'quase lá'! Foram mais de 46 % dos votos válidos no Rio Grande para o 'Galo Missioneiro'. Lula foi reeleito com avassaladora votação (mais de 60% dos votos válidos, mais de 20 milhões de votos de diferença do candidato das elites).
Lamentavelmente, o Rio Grande do Sul vai ter que ficar novamente na contramão do Brasil. Como coloca o RS Urgente: " E o Rio Grande do Sul tucanou. A maioria dos eleitores gaúchos decidiu eleger a deputada federal Yeda Crusius (PSDB) para governar o Estado nos próximos quatro anos. Yeda recebeu 3.377.973 votos (51,54% dos votos totais e 53,94% dos válidos). Olívio Dutra (PT) ficou com 2.884.092 (44,01% dos votos totais e 46,06% dos válidos). O índice de abstenção foi muito alto, chegando a 15,44% (1.197.001). Os votos brancos totalizaram 1,96% (128.696) e os nulos 2,48% (162.821). (...) . Apesar da derrota eleitoral, o PT comemorou algumas vitórias importantes como a retomada da maioria em Porto Alegre, onde venceu a disputa com 5 mil votos de vantagem (416.193 votos contra 411.866). Mas a principal vitória mesmo foi a volta das bandeiras vermelhas para as ruas, presença que havia sido atropelada pela crise política de 2005.
Embora tenha sido por uma escassa margem de votos, a vitória em Porto Alegre tem um significado importante, considerando o inferno astral que atingiu o PT nos últimos meses e o desempenho do partido nas eleições municipais de 2004. Naquele ano, Raul Pont fez 378.099 votos contra 431.820 de José Fogaça (PPS), que acabou vencendo as eleições. Após a crise do chamado “mensalão” houve quem dissesse que o PT e a esquerda em geral estavam acabados como força política no Estado. Apesar da derrota neste domingo, a Frente Popular, composta por PT, PC do B e PSB, conquistou um pouco menos da metade dos votos no Estado, superando inclusive a votação nominal feita por Tarso Genro nas eleições estaduais de 2002. O candidato petista, naquele ano, fez 2.196.134 votos contra os 2.426.880 de Germano Rigotto (PMDB). A diferença entre Tarso e Rigotto, porém, foi menor do que a verificada nas eleições deste ano, quando Yeda livrou mais de 493 mil votos sobre Olívio. Mas, para além dos números, as ruas mostraram que a esquerda permanece uma força política expressiva no RS. " (...)
Entrevista realizada por Júlio Garcia com Gustavo de Mello, ex-chefe da Casa Civil no governo Olívio Dutra:

'O modelo existente é oneroso, ineficaz e superado'


1-Blog: Como o Senhor, que integrou o governo Olívio Dutra como chefe adjunto e, após, Chefe da Casa Civil, avalia o processo de integração das polícias - civil e militar - tentado pelo governo da Frente Popular?

No governo da Frente Popular caminhamos na direção de um novo modelo de segurança pública – o modelo existente é oneroso, ineficaz e superado; esta era nossa opinião em 1999 – e procuramos alterar esta realidade no limite do ordenamento jurídico vigente com a formação integrada, o comando único, o novo estatuto da PM, o boletim único de ocorrência, a reestruturação administrativa da Polícia Civil e mais, as corregedorias fortes e integradas.

A ampliação do conceito de interinstitucionalidade também nos aproximou cotidianamente do Ministério Público e os resultados da Força Tarefa, para combater o crime organizado, foram muito estimulantes.

2-Blog: Quais as principais reações a essa iniciativa que surgiram durante esse período?

O processo de mudança sofreu muita resistência por parte das corporações da Segurança Pública (SUSEPE, BM, PC e IGP) e resistência enorme por parte de adversários políticos e da mídia tradicional que fez - e ainda faz - um debate muito empobrecido neste assunto. Reconhecemos que havia uma expectativa relacionada com defasagens históricas dos vencimentos e a necessidade de planos de carreira, fato que corrigimos em parte com as horas-extras para a BM, o Plano de Carreira do IGP e outras políticas nesta área. Claro que não era o ideal, mas o fato mais contundente foi aquele que conseguiu, diante destas dificuldades, carimbar as tentativas de mudança como partidarização, como coisa do PT e não como ações fundadas no interesse publico e na necessidade urgente de mudar; mesmo com todos os limites de financiamento.

3-Blog: Como o Sr. avalia essa experiência? Que dados positivos podem ser destacados?

Nós temos governos do PT como exemplo. A cidade de Diadema, em São Paulo, é uma prova da redução de homicídios por cem mil de forma muito radical, muito contundente e é algo para ser comemorado. Pois não é que ali se usaram os conceitos que começávamos a implementar por aqui, no Rio Grande do Sul, e os resultados começaram a aparecer quatro anos depois? Aqui, nossos adversários minaram politicamente o debate sério de temas importantes para promover as mudanças. A corrupção, por exemplo, tem que ser enfrentada com coragem. Eles trocaram esta vontade política da mudança necessária pela complacência do discurso vazio da “autoestima” e da “autonomia das corporações”. O resultado foi o “gatilho fácil” nestes últimos anos e a morte de muitos inocentes desnecessariamente. O governo Rigotto lavou as mãos e - publicamente - se escondeu sempre atrás de escalões inferiores de governo, quando tinha que prestar esclarecimentos públicos. A maioria dos órgãos de imprensa do estado protegeu e blindou o atual Governador e o Secretário de Segurança Publica, algo que se apresenta como um deboche da sociedade; algo que, no passado imediato, no nosso casso, sempre era imputado aos principais dirigentes da experiência petista de governo, como ocorreu com o então secretário José Paulo Bisol.

4- Blog: Na sua opinião, o que levou o governo Rigotto a encerrar essa política? Os problemas vivenciados hoje pela Segurança Pública no Estado, que se avolumaram nos últimos três anos, têm alguma coisa a ver com a paralisação da tentativa de integração das polícias, iniciada no governo que o Sr. integrou?


Ao contrário do que possa parecer, as corporações são muito politizadas e usam e abusam destas relações políticas para influir nos rumos da política pública. Só para ilustrar, tomo como exemplo a escolha de um comandante da BM: Ele havia sido ajudante de ordens de um ex-governador - agora deputado da base de apoio do atual governo - que era do mesmo partido do Secretario de Segurança do RS. Ele acabou escolhido para comandar a BM. Portanto, me parece que o critério técnico não era o mais importante, como ficou demonstrado. Só posso concluir que - de uma forma muito cínica - aqueles que acusaram a “partidarização” no governo passado, foram muito mais ardilosos e ainda mais partidários do que a sociedade possa perceber, e isto só podia acabar gerando mais descontrole e ineficiência.

O uso das promoções por merecimento – bem superior às promoções por antiguidade – é uma prova da proteção política que é dada a alguns indivíduos ligados aos partidos que apóiam o atual governo, com certeza.

A integração, por óbvio, sempre foi barrada pelas corporações que a sabotavam, mas havia uma vontade política do nosso governo em implementar esta política decisiva para combater a criminalidade. O governo Rigotto recuou porque sua estratégia era agradar os cardeais da Polícia Civil e os oficiais conservadores da Brigada Militar. Ele ganhou votos e se elegeu e depois cumpriu com sua promessa: acabou com a integração!

Lamentavelmente, o balanço é este: a sociedade ganhou mais mortos, mais vítimas e a sensação de que nada vai mudar e tudo vai ficando cada vez mais fora de controle do que qualquer um de nós podia imaginar. (Porto Alegre, 2006)

Sobre Flávio Koutzii



Quem tem a oportunidade - e o privilégio! - de conhecer e conviver politicamente com o Deputado Flávio Koutzii, líder da Bancada do PT na Assembléia Legislativa do RS, certamente não se surpreendeu com o teor da entrevista publicada sábado passado no jornal Zero Hora, abordando o difícil - mas necessário! - tema da crise do PT e dos rumos do partido (e do Governo Lula), alguns dos fortes motivos que o levaram decidir a não concorrer a mais um mandato como deputado estadual.

Flávio Koutzii, ao contrário do que pensaram (mal) alguns apressados, não está 'abandonando' a política. Continuará militando como Dirigente estadual e nacional do PT. Continuará a luta em outras frentes - que não o parlamento; aliás, como tem feito ao longo destes 43 anos de militância ativa e exemplar. Com sua doação, sua franqueza, sua sensibilidade apurada; contundente - quando necessário; com sua lúcida indignação, sua determinação revolucionária de continuar combatendo pois, como dizia o poeta Fernando Pessoa: "navegar é preciso..."! E a luta tem vários 'fronts', que Flávio, com certeza, continuará ocupando ... com a dedicação e o brilhantismo que lhe é peculiar.

Flávio Koutzii é, sem exageros, uma das pessoas que Bertold Brecht chamaria de "imprescindível": sua história, sua coerência, sua lucidez e coragem política estão aí para atestar o que afirmamos.

Não por acaso, o companheiro Pilla Vares, com rara felicidade, sintetizou essas - e muitas outras- qualidades suas no artigo que escreveu nesta última terça-feira, para o mesmo jornal, que tomamos a liberdade de publicar neste Blog, assim como a íntegra da citada entrevista.

(Escrito para o 'Blog do Júlio Garcia', Porto Alegre, 2006)



















Tragédia Carioca I


Agora foram dezessete

Os mortos da guerra carioca

(dezessete os mortos na noite

da cidade guardada pelos braços

do Redentor).

Meninos a maioria

mortos, estraçalhados,

corpos franzinos decompondo-se,

dilacerados, expostos aos 40 graus

e à insensibilidade geral,

sob o sol equatorial da antiga cidade maravilhosa.

Dezessete as vítimas fatais

da vingança policial desencadeada

nas cinco horas do massacre

(ou “tiroteio” – estava nos jornais).



- A favela Nova Brasília é o novo front

da guerra do Rio.



Dezessete mortos nesta noite

desovados no subúrbio ironicamente chamado

‘Bonsucesso’.

Dezessete vidas ceifadas

na guerra civil – que a tela global denomina

“a Guerra do Tráfico” – e lava as mãos sanguinolentas.



Meninos a maioria

As vítimas da guerra nas favelas.



O espelho das águas outrora cristalinas

das lagoas do Rio

Estão embaçados pelo sangue

dos meninos mortos na guerra dos morros

pelo sangue das vítimas da tragédia carioca

que continua...



(Poema extraído do livro ‘Cara & Coragem’ – Poemas –de Júlio Garcia – PoA/1995)
Assim Caminha o Rio Grande IV (Final)

Os números relativos ao aumento da pobreza – no Brasil e no mundo - relatados por dom Mauro Morelli, bispo da arquidiocese de Duque de Caxias (RJ), em recente estada em Porto Alegre à convite da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, são alarmantes, e só não ruborizam os corações e mentes anestesiados pela insensibilidade produzida pela aceitação covarde do modelo neoliberal, cada vez mais esclerosado no mundo, mas em voga no Brasil de FHC (com honrosas exceções, como é o caso do Rio Grande).

Com todas as letras, dom Mauro informa que, de cada seis habitantes do Planeta Terra, pelo menos um passa fome - ou seja, mais de um bilhão de seres humanos! Em particular no Brasil, o aumento da miséria combina-se com a depredação da natureza, provocando um desastre ainda maior, legado esse produzido pelo modelo adotado principalmente nos últimos anos, iniciado por Collor e galhardamente assumido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pela troupe que lhe dá sustentação política. O resultado disso é um país estiolado, dependente cada vez mais do imperialismo, onde impera a exclusão social, a fome, o desemprego e a desesperança.

Enfrentando essa política liquidadora, o Estado do Rio Grande do Sul, através de seu Governo Democrático e Popular, liderado pelo Governador Olívio Dutra, desenvolve uma série de ações no sentido inverso e, após dezoito meses de mandato, já pode se orgulhar dos resultados obtidos – o que só a mídia monopolizada pela RBS, veículos afins e a oposição raivosa dos partidos burgueses e suas entidades de classe tentam ignorar.

Para melhor ilustrar esse novo momento na história gaúcha, reporto-me à seguir ao editorial do jornal “O Estado do Rio Grande do Sul”, cuja última edição (julho/2000) - com números detalhados de todas as áreas do Governo - é de leitura obrigatória para todos os gaúchos que realmente querem saber verdadeiramente como está sendo administrado o Estado:

“Passado um ano e meio da posse do atual governo estadual, não é exagero dizer que o Rio Grande do Sul vive um novo momento de sua história . O início do saneamento financeiro do Estado, a implantação do Orçamento Participativo, o crescimento econômico a partir de retomada de setores importantes da nossa economia, o fortalecimento das políticas sociais e a qualificação dos serviços públicos configuram uma profunda mudança para todos os gaúchos.

Em um quadro nacional de crise econômica, vários indicadores positivos mostram que o Rio Grande vem trilhando o caminho certo, com taxas positivas de desenvolvimento industrial, números invejáveis na queda da mortalidade infantil, referência nacional em educação, saneamento, qualidade de vida, com incentivo tanto aos setores tradicionais da economia quanto aos novos desafios da ciência e da tecnologia (...)”.

E esclarece ainda: “... o objetivo de colocar a casa em ordem está sendo alcançado, com cortes em setores como publicidade, viagens, recepções e congressos e a revisão de benefícios a contribuintes, com o ajuste da fiscalização de tributos. Também é importante citar, nesse sentido, as novas negociações com o governo federal, que resultaram em vantagens para o Rio Grande.

Já no primeiro ano de nossa administração, foi possível cumprir o percentual de 10% do orçamento para a saúde pública e iniciar o processo de Municipalização Solidária, assim como outros projetos fundamentais: a Reforma Agrária, o Primeiro Emprego, o apoio ao setor coureiro-calçadista. O processo avança com a recuperação e construção de estradas, a contratação de novos professores, as incubadoras empresariais, novas linhas de crédito do Banrisul para a agricultura e muito mais (...)”.

A imagem do Estado, inclusive, é projetada internacionalmente, pois não são poucos os países e organizações que para cá enviam representantes para inteirarem-se dos métodos democráticos de participação popular introduzidos pelos governos petistas e da Frente Popular (no Estado e nos municípios onde somos governo, como acontece em Porto Alegre, Caxias, Palmeira das Missões, Alvorada...) onde o Orçamento Participativo exerce função determinante. E isso, convenhamos, não é pouca coisa...

Contrastando com a política lesa-pátria do governo federal e de seus aliados conservadores nos estados e municípios, que angustia dom Mauro Morelli e o conjunto maior do povo brasileiro, podemos afirmar que aqui no Rio Grande do Sul, de verdade, “são outros 500”. Com satisfação, mais uma vez ressaltamos, apoiados em dados concretos e irrefutáveis, dos quais o povo gaúcho já está apropriando-se (apesar do boicote da mídia já referido) que este, com certeza, é um “caminho sem volta”, onde impera a democracia, a participação popular, a garra e a esperança, pois – para desespero das viúvas do desgoverno passado – agora ... é “Assim que Caminha o Rio Grande”!

Perspectivas...


O PT e as eleições 2000



O resultado do 2º turno das eleições municipais deste ano acabou por consolidar a vitória da esquerda, com destaque para o Partido dos Trabalhadores. Vitória essa obtida já em 1º de outubro, por ocasião do primeiro turno, quando o Partido teve um crescimento de 51,25% em nível nacional, em relação às eleições de 96, consolidada agora de forma inquestionável, admitida inclusive pela maioria dos adversários menos sectários do projeto renovador/transformador representado pelo PT e aliados do campo democrático e popular.

Não é demais enfatizar que neste 2º turno o PT concorreu em 16 cidades com mais de 200 mil eleitores em vários estados do país, tendo sagrado-se vitorioso em treze delas, além de ter vencido, concorrendo a vice em várias outras cidades importantes, como ocorreu em Belo Horizonte, Niterói, Olinda, dentre outras. Por muito pouco, a vitória não foi alcançada também em Canoas, Curitiba e Santos. Fica para a próxima...

Com efeito, a quarta vitória consecutiva em Porto Alegre, reelegendo – de forma arrasadora - o companheiro Tarso Genro; as conquistas obtidas no interior do Estado, em particular as reeleições em Caxias, Gravataí, Alvorada e Viamão; as grandes vitórias registradas em Pelotas, Santa Maria, Bagé, Cachoeirinha, dentre outras, atestam que, no Rio Grande do Sul, temos sim muito à comemorar: além dos resultados já citados, foi o Partido dos Trabalhadores o grande vitorioso, também numericamente, tendo ficado com a honrosa posição de ser o partido mais votado para o Executivo nestas eleições. Sem dúvida, uma resposta contundente de apoio e estímulo ao PT, aliados e ao Governo Democrático e Popular do Rio Grande, tão atacado, de forma injusta, antidemocrática e desleal, por nossos adversários durante toda a campanha, que sai destas eleições fortalecido com o voto de confiança conferido pela maioria dos eleitores gaúchos (o verdadeiro plebiscito realizado no RS é inconteste!) para tristeza dos “caciques” do PMDB, PPB, PTB, PFL, PSDB etc... - os grandes derrotados neste histórico pleito recém concluído.

Não podemos deixar de destacar também as vitórias em mais cinco importantes capitais ( a começar por São Paulo, o que dispensa maiores comentários), além de Goiânia, Recife, Belém e Aracajú; as importantes conquistas no Paraná (Maringá e Londrina), além das vitórias significativas no interior de São Paulo, que atestam de forma definitiva a dimensão da vitória do dia 29 de outubro. Governaremos a partir do ano vindouro, 187 prefeituras distribuídas em todas as regiões do país, dentre as quais, 17 das maiores cidades brasileiras, o que, convenhamos, não é pouca coisa!

É claro que em muitos municípios as dificuldades oriundas da falta de uma maior inserção social do Partido (principalmente no movimento popular e sindical); a falta de organização e qualificação das direções, ou mesmo devido a problemas internos, que geraram não raramente disputas sectárias e despolitizadas, prejudicando o desempenho e torpedeando a unidade partidária, juntamente com erros – muitos dos quais poderiam ter sido evitados, - na condução da campanha, somados a truculência utilizada por nossos adversários conservadores – principalmente nos municípios menores, e que não foram poucas! – fizeram a diferença e dificultaram um avanço que poderia ter sido ainda maior.

Os companheiros, porém, de forma responsável, desarmada e construtiva, certamente saberão tirar as devidas lições dos erros cometidos nesta campanha, através das avaliações nos balanços que já estão sendo realizados, e que deverão contribuir para evitar sua repetição nos próximos embates eleitorais que travarmos, bem como na luta do dia-a-dia, reafirmando nosso projeto e combatendo nossos inimigos de classe (somos um partido do “ano inteiro”, não é assim?), além de ajudar a melhorar nossas relações internas, depurando e reorganizando o Partido dos Trabalhadores, propiciando que a “Maré Vermelha” também chegue, nas próximas eleições, à todos os rincões do nosso estado e país.

O companheiro Flávio Koutzii, avaliando o resultado eleitoral, não tem dúvidas em relação ao significado de nossa vitória, bem como do que nos aguarda, do que estará em jogo a partir de agora: “... As eleições municipais estabeleceram um novo cenário para 2002. O que identifico como o começo do fim da hegemonia neoliberal não garante o início da nossa hegemonia. Significa, isto sim, o caráter da luta que temos pela frente”. Mas alerta: “... No bojo de nossa mais expressiva vitória desde a conquista do Governo do Estado, nós temos, como eternamente se repete ao longo da nossa história, imensos desafios. A direita vai redobrar os seus esforços para fortalecer seus espaços políticos”.

No entanto, apesar das imensas dificuldades que temos enfrentado - e que sabe, terão continuidade - o companheiro Flávio reafirma sua crença em nosso potencial: “... As eleições significaram a retomada do orgulho de ser petista, a afirmação da identidade, dos nossos valores e o reconhecimento das massas populares, que começam a discernir que, apesar dos problemas (no nosso Governo) existe um projeto que é contrário ao modelo neoliberal. Portanto, estamos atuando num cenário que tivemos a honra de construir, o prazer de desfrutar e a alegria de viver” (...).

Com efeito, a flagrante derrota do neoliberalismo nestas eleições tem que ser destacada com a devida ênfase no balanço que estamos realizando, aliás, como muito bem coloca o companheiro Milton Temer (PT/RJ) em recente artigo onde analisa os resultados eleitorais no país: “... A oposição - a esquerda e dentro dela o PT - alcançou uma vitória espetacular nas eleições municipais deste ano da graça de 2000. O recado que sai das urnas é claro: o Brasil tem que mudar. O impacto deste resultado tão contundente vai determinar uma mudança na correlação de forças e na agenda geral do debate político brasileiro.

Que o PT foi o principal vitorioso, quase ninguém contesta. Até mesmo os governistas e os porta-vozes das forças sociais dominantes são obrigados, ainda que de maneira constrangida, a reconhecer esse fato. Cada qual, é claro, busca fazer sua leitura interessada e distorcida do resultado. Coisas do tipo: rosa esmaecido, ganhou porque não é mais radical, aceitou os ditames da ordem, virou social-democrata. Ou então: vão virar vidraça e (enquanto ajuntam pedras para jogar) apostam na diluição do projeto petista naquilo que eles julgam a inevitável geleia geral brasileira.

Terão ou não razão? Só a vida dirá. Uma coisa, no entanto, é certa. O PT ganhou a eleição ali onde se apresentou com sua identidade forte (...)”.

E continua o Deputado Federal petista: “Quando o Congresso do partido decidiu federalizar a disputa municipal, transformando-a num plebiscito contra FHC, acertou em cheio. A vitória começou ali. A militância bancou o desafio e o partido vestiu o vermelho-esperança para conquistar, no debate que associou os problemas da cidade com as grandes questões da política nacional, a consciência cidadã e a vitória nas urnas.

O PT ganhou as eleições porque acumulou na política. Quando a população resolve rechaçar, de maneira cada vez mais efetiva, o modelo neoliberal dominante, implantado por Collor e consolidado na era FHC, o projeto petista é o desaguadouro natural. A sociedade reconhece no PT, desde sempre, o contraponto radical a este modelo (...)”.

“O PT sai das urnas com responsabilidades alargadas. Mais do que conquistar espaços de poder, saber enfrentar os desafios da administração pública, o compromisso originário do partido é com a mudança da natureza do poder político. A governabilidade – democrática e participativa – se afirma através da mudança na ordem social injusta. E a eficácia do propositivo está ancorada na ruptura com o modelo excludente. São os eixos de um desafio que, se bem resolvido, projetam sobre 2002 os impulsos da atual onda vermelha”.
A palestra de Hugo Chavez no FSM

Um dos pontos altos do 5º Fórum Social Mundial (que, pela grandiosidade do evento, merecerá um novo artigo na próxima edição) foi, sem dúvida, a palestra do presidente venezuelano Hugo Chaves, que tivemos o privilégio de assistir, realizado na tarde-noite de domingo, 30 de janeiro, com o Gigantinho lotado, a exemplo do que já tinha acontecido na antevéspera com a palestra do Presidente Lula. A jornalista Elaine Tavares, do Observatório Latino-Americano/Universidade Federal de Santa Catarina, em artigo intitulado “Uma fissura no muro do império”, do qual tomamos a liberdade de reproduzir a seguir os principais trechos, mostra como foi a performance do presidente venezuelano e a reação das quase 13 mil pessoas que lá estavam para ouvi-lo:

“Estes são tempos sombrios. O império avança, armado até os dentes, impondo dirigentes, políticas e até sonhos. Tem o poder da força bruta, acossa, oprime. Mas, nas "orillas" (margens) do terror, assomam gentes, dispostas a resistir, lutar, morrer até, como se vê no Iraque, que finca pé no seu direito de decidir sobre a própria vida. E, em meio a toda essa tormenta, aparece um homem. Não é que seja um deus. Não é que seja um salvador. Mas, sem dúvida, é mais um exemplo de que, a despeito de tudo, é possível não ficar de joelhos diante da força, é possível dizer não. O homem é Hugo Chávez, que, na cena política da resistência vem se somar a outro velho líder: Fidel, até então suportando, praticamente sozinho, o fardo de enfrentar o império. (...)
"Hugo Chávez é um líder de novo tipo", saudou o jornalista Ignácio Ramonet. E foi a partir desse mote que o presidente venezuelano conduziu seu discurso.

De novo tipo sim, disse Chávez, mas amparado em velhos tipos e tipas, principalmente em Simón Bolívar, o caraquenho que acabou virando o libertador, construindo a desvinculação de mais de seis países do jugo colonial espanhol. (...).

Alertou que não é nada fácil lutar contra o império estadunidense, porque este está ferido de morte, já não tem quem defenda sua ideologia e, por isso, segue mais furioso, amparado no poder da força das armas. Disse que as mudanças têm de vir "a despacio" (devagar) e que é preciso ter paciência, disciplina e vontade de mudar. Apontou as vitórias da revolução bolivariana na Venezuela, os avanços na organização popular, na saúde, na educação, na comunicação comunitária. Falou dos desafios ainda a serem vencidos e da necessidade de a América Latina se libertar de verdade e de se integrar a partir de outro ponto de vista.

Para isso, Chávez tem propostas muito concretas. Uma delas é a ALBA, contraponto que criou para enfrentar a ALCA, imposição dos Estados Unidos. (...) A idéia de Chávez é de uma integração latino-americana que trabalhe a cooperação, a cultura, a vida na sua totalidade e não apenas no aspecto econômico das grandes corporações. É um pouco do que já está fazendo com Cuba. A ilha tem ajudado na saúde e na educação de forma decisiva. É um método cubano de educação que está sendo levado a cabo na Venezuela e mais de 20 mil médico cubanos estão vivendo no país, com uma proposta de medicina preventiva e familiar. Agora, o governo venezuelano colocou para andar o projeto da TV SUR, uma idéia de integração da comunicação latino-americana, que vai fazer com que a gente do sul do mundo possa - enfim - se conhecer. (...)
E foi nesse ritmo de propostas ousadas e originais que o presidente da Venezuela falou por uma hora e meia. Pediu que as gentes não tenham medo de se dizerem anti-imperialistas, anti-hegemônicas, anti-capitalistas e que é nessa luta que e vem estar todos aqueles que sonham com um mundo novo.
Disse que seu país está caminhando no rumo do socialismo, que há rotas a corrigir, que há muito por fazer, que não sabe nem se tudo isso vai dar certo. Mas, entende ele que é caminhando que se faz o caminho e a Venezuela vai desbravar o seu. Saiu do Gigantinho ovacionado, não como a última esperança branca, como um herói, mas como um homem de coragem que está ousando desafiar o império. Chávez é só mais um exemplo (...) de que na grande muralha de poder erguida pelos Estados Unidos, podem acontecer fissuras, pequenos buracos que, com a força do desejo de libertação represado, podem romper o muro e apontar para uma vida justa, de cooperação, de liberdade e de integração real entre os povos. A história caminha, a despeito dos arautos do seu fim...”.
Assim Caminha o Rio Grande III

A edição de nº 13 do jornal “O Estado do Rio Grande do Sul” (maio/junho/2000) destaca com ênfase em sua chamada de capa a série de obras que estão sendo realizadas em todo o Estado. Absurdo é que a maior parte da mídia, equivocadamente, ainda insista em fazer ouvidos moucos ao que está acontecendo no Rio Grande, do verdadeiro “canteiro de obras” que está transformando o Estado.

As ações implementadas pelo governador Olívio Dutra, apesar das dificuldades financeiras herdadas do governo anterior, já suficientemente conhecidas do povo gaúcho, revelam a nova realidade do Estado. Com efeito, é o desenvolvimento real (não virtual, como fazia o governo passado) que está acontecendo: a construção de estradas, novas escolas, torres de energia elétrica, estações de tratamento de água e esgoto; poços artesianos. E mais: as ações concretas em relação à Reforma Agrária; as linhas de financiamento aos agricultores (via Banrisul), especialmente à agricultura familiar; a contratação (via concurso) de 8.900 professores; 4.500 funcionários para as escolas estaduais; a descentralização da cultura; o Programa Primeiro Emprego, os investimentos na Segurança, na Saúde, a política habitacional etc... já fazem a diferença – e isso que nem chegamos ainda à metade do mandato!

Mas, corrijo: não trata-se de equívoco esse absurdo, pois seria demasiada ingenuidade de nossa parte esse entendimento. Na verdade, esse comportamento já é por demais conhecido: trata-se sim de boicote direto, total, irrestrito, imoral, uma guerra mesmo, articulada pelas forças conservadoras e seus aliados donos do monopólio midiático ... mas que não pode ser desconsiderado, ainda mais que esse boicote faz parte da estratégia dos oponentes ao governo gaúcho para tentar desqualificá-lo, enfraquecê-lo, desgastá-lo, devido à proximidade das eleições municipais, onde o PT desponta como franco favorito em dezenas de municípios importantes do Estado.

Isso tornou-se intragável para a oposição conservadora, pois sabem que as eleições deste ano são a primeira parte do enfrentamento de 2002, quando ocorrerão as eleições para os governos estaduais e para a Presidência da República. E esta trincheira contra o neoliberalismo de FHC e cia, representada pelo governo gaúcho, com sua determinação e garra característica, precisa ser derrotada a qualquer custo – pensam eles ... e assim agem.

Só que esqueceram de uma coisa extremamente importante e decisiva: o Governo Democrático e Popular do Rio Grande, juntamente com os partidos e movimentos sociais que o apóiam, somados a grande maioria do povo que quer - e está vendo - as mudanças ocorrerem com sua participação direta , não estão dispostos a proporcionarem a volta do atraso e do entreguismo, do oportunismo político, dos privilégios aos “grandes”, do “toma-lá-dá-cá”, da truculência e da falta de diálogo com a sociedade à testa do governo do Rio Grande.

A razão desta convicção – que não é só nossa, e que inclusive já se espraia pelo Estado inteiro - é bastante simples: é porque aqui no Rio Grande agora existe acúmulo, transparência, determinação; existe uma nova maneira de administrar; existe concretamente a verdadeira “coragem de mudar”, como afirmamos na campanha vitoriosa do PT e da Frente Popular.

Pois aqui (aviso aos céticos, podem escrever) as forças do atraso NÃO PASSARÃO! Por que, agora ... é “Assim que Caminha o Rio Grande”!
Assim Caminha o Rio Grande II

Como colocávamos na primeira parte deste artigo (“Assim Caminha o Rio Grande - I”, dez/99), são incontestes as mudanças e os avanços obtidos neste primeiro ano do governo Democrático e Popular do RS, absolutamente transformador e profundamente comprometido com as questões mais cruciais, tanto do ponto de vista imediato, quanto estratégico da cidadania gaúcha.

As ações desenvolvidas neste período demonstram que o povo do Rio Grande não só elegeu uma nova proposta de governo, como também é co-partícipe da mesma, dividindo responsabilidades e redirecionando-as, como podemos observar na participação direta e massiva nas assembléias do O.P., para desespero daqueles que queriam o caos, através da inviabilização financeira e política do nosso Estado. (Dentre outras “previsões” catastróficas e irresponsáveis, diziam que o governo Olívio Dutra não conseguiria realizar seus compromissos de campanha; teria que vender as estatais que restaram; não conseguiria sequer pagar a folha de março - de 99 ! - etc...).

Para decepção das viúvas do desgoverno passado, não só existe agora um governo de verdade trabalhando para servir a maioria da população , como também este está cumprindo rigorosamente com tudo aquilo que foi assumido como compromisso de campanha, através dos pontos constantes no programa de governo ( que deverá ser aplicado nos quatro anos de mandato) e que, para o PT e seus aliados (PSB, PC do B, PCB e PDT), jamais constituiu-se em peça de ficção.

Será que os adversários do novo governo gaúcho terão coragem de negar o óbvio, contestando as ações já desenvolvidas e que estão sendo observadas – e apoiadas - pela população , como nossa contribuição (inédita, diga-se de passagem) à Reforma Agrária (que, salientamos, é de responsabilidade do governo federal), onde somente no ano passado foram assentadas mais de 800 famílias de sem terras, ultrapassando inclusive a meta prevista originalmente? Ou sobre a criação ao Seguro Agrícola, antiga aspiração dos agricultores? E os demais investimentos na Agricultura (81,2% a mais do que gastou o governo anterior no mesmo período)? Na Saúde (pela primeira vez, o RS cumpriu e superou o gasto com a saúde exigido na Lei); na Educação (a realização, além de centenas de obras, do concurso para o Magistério, abrindo mais nove mil vagas para professores, e agora, mais quatro mil e quinhentas para funcionários? Da mesma forma, negarão os investimentos nos Transportes, nas Obras, na Habitação? E a redução do déficit público em mais de 48% , além do crescimento da arrecadação do ICMS e do PIB do Estado, tudo comprovado pelos números, terão coragem de negar?

E o que dizem eles sobre o Programa Primeiro Emprego, que está sendo implementado no Estado, numa parceria pioneira com pequenos e médios empresários, como uma das formas de combater o desemprego e a recessão provocados pelas políticas do governo federal, descaradamente submisso aos ditames do FMI, apoiadas – mesmo que de forma envergonhada – por seus próprios partidos (PPB, PMDB, PSDB, PTB, PFL ...) alinhados ao neoliberalismo de FHC e Cia? Ou negarão os investimentos visando reaparelhar – e sanear - a Segurança Pública, cujo montante ultrapassa três milhões de reais em investimento imediato?

Da mesma forma, como irão posicionar-se esses setores, agora “oposicionistas”, em relação aos financiamentos promovidos pelo Banrisul (que por eles já teria sido vendido por moedas podres), que agora libera créditos para quem realmente precisa, assim como promove a criação de linhas de crédito financiando os pequenos e médios produtores, além das feiras agropecuárias no interior que se intensificam a cada dia?

A resposta não é uma incógnita, pois os atuais deputados “oposicionistas” (ao governo do Rio Grande e não ao governo federal), não primam pela coerência, mas sim ... pela truculência. (Vejam como comportaram-se, prejudicando o Rio Grande e, consequentemente, a maioria de sua população, votando contra todos os projetos enviados para a A..L. no final do ano, e que visava, principalmente, acabar com os eternos privilégios e estabelecer um teto para os altos salários e um piso que acabasse com as injustiças verificadas contra a maioria do funcionalismo).

O Governo Democrático e Popular do Rio Grande tem demonstrado sobejamente, já neste primeiro ano de governo, em alto e bom som, seu compromisso radical com as transformações e com a democracia efetiva. Por acaso passou despercebida para alguém a forma diferenciado com que o novo governo gaúcho tratou – e negociou - com os professores durante a recente greve realizada pela categoria (que entendemos como inoportuna e incorreta, mas que respeitamos), e cujas reivindicações legítimas e históricas jamais foram contestadas, apenas a realidade financeira do estado, herdada do governo anterior, impediu que fosse oferecido um reajuste maior, como sinceramente gostaríamos de ter podido conceder? A categoria, aliás como tem sido com todo o funcionalismo e demais setores que reivindicam, foi tratada sempre com educação, com respeito, sendo recebida em Palácio pelo Governador e seus secretários – sem aparatos repressivos, sem baionetas ou cães intimidando os manifestantes, como era comum nos governos passados.

Essa, senhoras e senhores, é uma das diferenças que fazemos questão de destacar; é como se governa num legítimo governo dos trabalhadores, mas que a “oposição” raivosa e rancorosa (que a nível nacional apóia e integra o desgoverno lesa Pátria de FHC e Cia) faz questão de tentar ignorar.

Repetimos, porém, que para seu desespero, apesar da “herança maldita” (mais de 1 bilhão de reais foi o rombo deixado pelo governo anterior) e do “rolo compressor” representado pelas bancadas conservadores na Assembléia Legislativa, da parcialidade da maioria da imprensa e do governo federal , o Rio Grande não se renderá.

O Governo Democrático e Popular, comandado pelo governador Olívio Dutra e com o apoio da maioria dos gaúchos, está dando certo e assim vai continuar, pois felizmente ... agora é Assim que Caminha o Rio Grande! (Por Júlio Garcia)

ASSIM CAMINHA O RIO GRANDE



O Governo Democrático e Popular do Rio Grande do Sul, comandado pelo PT e partidos aliados, liderado pelo governador Olívio Dutra, está comemorando 10 meses de governo.

Todos sabem o fato histórico marcante que representou a vitória da Frente Popular, com a conseqüente interrupção do continuísmo que se eternizava à testa do governo gaúcho, em particular na última fase, de cunho assumidamente neoliberal, escandalosamente submisso às políticas do governo federal, que provocava o desmonte do Estado, o aumento da dívida, do desemprego , da exclusão absoluta da cidadania e a entrega despudorada do patrimônio público à dita “iniciativa privada”. A eleição do novo governo gaúcho representou uma ruptura radical com tudo isso, demonstrando a vontade inequívoca da maioria do nosso povo de dar um basta a este banquete elitista, completamente subserviente às elites (nacionais e internacionais) e possibilitar que a cidadania gaúcha pudesse novamente ser agente e condutora de seu destino.

As mudanças evidentes fizeram-se notar já nas primeiras semanas de governo, em que pese a monumental campanha de calúnias levantadas pelos adversários do novo governo gaúcho, com o objetivo de tentar esconder da opinião pública suas ações e conquistas , através de boicotes - principalmente na chamada “grande mídia”- , juntamente com uma sórdida campanha de truculências e inverdades plantadas diariamente nos meios de comunicação, nos panfletos apócrifos e na postura cada vez mais sectária da maioria das bancadas hoje oposicionistas na Assembléia Legislativa, aliás alinhadas nacionalmente com o desgoverno de FHC e Cia.

Na verdade, desde janeiro um novo tempo começou em nosso Estado. Conforme citado em documento de avaliação recentemente divulgado por setores expressivos do PT “(...) os gaúchos reafirmaram o sonho e a utopia. Aqui o humanismo tem vez e voz. Aqui o socialismo não morreu. Aqui os valores libertários e democráticos fazem história e futuro”.

Com efeito, “o significado da vitória para o Governo do Estado transcende as fronteiras. O sucesso do governo Olívio, sua capacidade de enfrentamento do governo central e suas políticas é esperança para o povo brasileiro e latino-americano. Forjam-se raízes sólidas e bases para um projeto de desenvolvimento alternativo”

Sem sombra de dúvidas, é isso que assusta, que incomoda, que aterroriza, que apavora os adversários. Hoje, no Palácio Piratini, “ entram e são recebidos prioritariamente os agricultores familiares, os índios, os sem-terras, os sem-teto, os professores, o funcionalismo, os excluídos. Os grandes empresários não são mais secretários sem pasta entrando no Palácio sem marcar audiência. Os recursos do Banrisul vão prioritariamente para os micros, pequenos e médios empresários e não para as multinacionais ou para meia dúzia de apaniguados de sempre. A publicidade, em vez de majoritariamente veiculada na RBS, vai em primeiro lugar para as rádios e jornais do interior ou para a comunicação direta do governo com a população”.

O programa do Primeiro Emprego está sendo implementado em parceria com pequenos e médios empresários, espraiando-se pelo estado e dando oportunidade de trabalho para milhares de jovens; no campo, até o final do ano 874 famílias serão assentadas, uma contribuição do Estado para que a Reforma Agrária seja efetivamente realizada (isso que ela é uma responsabilidade do governo federal); o reaparelhamento da Segurança Pública (três milhões em investimento imediato); o pagamento , pela primeira vez realizado por um governo gaúcho, para as prefeituras pela transporte escolar; os financiamentos para aqueles que realmente precisam, realizados pelo Banrisul, assim como a criação de linhas de crédito para financiar as feiras agropecuárias no interior; a austeridade, além do absoluto respeito com a “coisa pública” são alguns exemplos de ações concretas que o governo está realizando no Rio Grande.

Cidadãos e cidadãs estão realmente vivenciando novos tempos: tempos de democracia efetiva -só na preparação do novo orçamento, via OP, foram 190 mil pessoas mobilizadas em todo o Estado-; tempos de verdadeira participação popular, de inversão de prioridades, enfim, de respeito total à cidadania. E, diga-se de passagem, isso não é pouca coisa!

Apesar das dificuldades, da enorme “dívida maldita” herdada, da parcialidade inconteste do governo federal, temos grandes motivos para retomarmos o otimismo, pois ... É assim que está caminhando o Rio Grande! (Por Júlio Garcia - Porto Alegre - 1999)

Artigo

Um Outro Mundo é Possível

* Por Júlio Garcia

A realização da 5ª edição do Fórum Social Mundial, recentemente ocorrido em Porto Alegre, com a presença de mais de 160 mil pessoas, representando mais de 130 países dos cinco continentes, além da qualidade e profundidade dos temas abordados e das propostas aprovadas, atestam o sucesso do mesmo, apesar da tentativa (inócua) de setores da mídia conservadora de diminuir e descaracterizar a grandeza do evento que a capital gaúcha teve o privilégio de sediar mais uma vez.

É inquestionável o crescimento e a importância do megaevento mundial que busca encontrar soluções e tomar iniciativas para criar alternativas reais que impeçam o mundo de continuar no caminho da exclusão e da barbárie que tem levado a maioria da população à degradação, a miséria e a desesperança, enquanto poucos privilegiados usufruem as riquezas produzidas pela maioria. Para termos uma dimensão mais precisa do crescimento do Fórum Social Mundial, em 2001, no 1º FSM, em Porto Alegre, 25 mil pessoas discutiram alternativas ao neoliberalismo e ao imperialismo. Em 2002, o número cresceu para 60 mil participantes. Em 2003, ainda em Porto Alegre, 100 pessoas participaram do evento. Em 2004 o Fórum Social Mundial foi realizado em Mumbai, na Índia, sendo que mais de 100 mil participantes estiveram presentes. Neste ano, na 5ª edição, novamente em Porto Alegre, mais de 160 mil pessoas reafirmaram a disposição de continuar a luta por um mundo mais justo, fraterno e solidário.

A dimensão alcançada pelo FSM é extremamente relevante especialmente se considerarmos o momento em que o mesmo ocorre, onde, no início deste novo século, que começou sob o signo de convulsões, de tragédias, guerras e de uma nova fase da política e da ofensiva militar dos Estados Unidos, que agora ganhou feições fundamentalistas, como ocorreu com a decisão de invadir o Iraque, passando por cima dos organismos internacionais e colocando em risco iminente a frágil democracia existente hoje no cenário mundial.

Impossível neste espaço relatar a maioria das oficinas e palestras realizadas durante o evento. Destacamos, no entanto, a marcha de abertura (200 mil pessoas); o lançamento do “Manifesto de Porto Alegre - Doze pontos para um outro mundo possível”; as participações de Eduardo Galeano, Boaventura de Souza Santos, Tariq Ali, José Saramago, Flávio Koutzii, Frei Beto, Ignácio Ramonet, Leonardo Boff, Gilberto Gil, e as palestras com o presidente Lula e com o presidente Hugo Chavez, da Venezuela (que merecerá um outro artigo, por sua relevância).

Nesta quinta edição do FSM, após 5 dias de discussões nas mais de 2 mil oficinas realizadas, foram aprovadas 352 propostas oriundas das mais diferentes organizações que dele participaram, todas visando a construção de “um outro mundo possível”. Como colocaram os organizadores no encerramento do Fórum “a quinta edição do FSM começou como expressão da diversidade planetária, polifonia de vozes que se encontram em desejos universais da tolerância, da justiça, da paz, da igualdade. E se encerra dentro desse mesmo espírito. (...) O Fórum atualiza um conjunto de lutas e bandeiras importantes para o desafio de questões que vão do controle do capital internacional, ao individamento dos países e à guerra. É uma plataforma ampla que responde à necessidade urgente de fortalecermos essas lutas. Saímos daqui com mais energia para seguir em frente”.